segunda-feira, 24 de maio de 2010

Locadoras, um negócio do século passado?


Com o declínio das locações, as lojas do ramo estão investindo em outros produtos para manter o comércio ‘ativo’

Assim como Hollywood, o mercado das vídeolocadoras já viveu épocas mais douradas. Os tempos são outros e a prática de alugar DVDs em um estabelecimento está perdendo cada vez mais espaço para os downloads gratuitos feitos pela internet e para o aumento indiscriminado da pirataria física. A criação do VHS (Sistema de Vídeo Caseiro, na sigla em inglês) gerou o “boom”das locadoras e a febre do cinema em casa, na década de 70. Com o passar dos anos a prática do home vídeo esfriou e foi reaquecida pela chegada do DVD (Disco Digital de Vídeo), no final dos anos 90, o que também constituiu elemento facilitador da prática da pirataria, a arquiinimiga da indústria cinematográfica.

Este novo cenário tem dificultado a vida das locadoras de bairro que não tem condições de concorrer com as facilidades oferecidas pelo mercado negro das películas. Elaine Frade, 37 anos, está a apenas seis meses no negócio. Ela comprou a Naka Vídeo Locadora, que existe a 19 anos no Bairro Rudge Ramos, em São Bernardo e já se diz arrependida com o negócio. “Não tem mais lugar para as locadoras de vídeo no mercado, elas estão chegando ao fim. Apesar da nossa boa localização, já registrei queda de 50% nos lucros em menos de um semestre”, afirma.

Até as grandes redes estão sentindo o impacto da era digital, como a Blockbuster brasileira, gigante do ramo, que foi comprada pelas Lojas Americanas em 2007. Para não se tornarem ultrapassadas, as lojas que pretendem continuar em atividade terão de se adaptar a nova realidade e investir em melhorias tanto no atendimento como na seleção dos filmes oferecidos ao público.

Os seis mil títulos acumulados nas prateleiras de Elaine Frade não são suficientes para sustentar a família, e por isso ela incrementou as vendas e agora oferece no mesmo espaço, filmes, bijuterias e roupas de fitness. “A venda de roupas representa 70% da minha receita, a locação de DVDs fica com os 30% restantes”, confessa.

Ela concorda que grande parte da culpa é da fiscalização precária em cima do comércio ilegal, mas aponta o alto custo da indústria do cinema pela outra parte do fracasso. “Um DVD original custa cerca de R$120. Cobrando R$5 em cada aluguel, vou começar a ter lucro somente após 24 locações”, relata.

Futuro – Os estudiosos do setor acreditam que esse encolhimento não é apenas uma crise passageira e sim uma remodelação do segmento. A era digital está estabelecendo uma nova ordem mundial no mercado do home vídeo que será baseada prioritariamente nas exibições online. “O que vai acontecer é uma readequação das locadoras, mas o mercado nunca voltará aos moldes que alcançou no passado”, esclarece o professor de cinema digital da Universidade Metodista de São Paulo, José Augusto de Blasiis.

As esperanças do setor estão concentradas no blu-ray, a nova geração de DVDs com capacidade de armazenar filmes com alta definição e, até o momento, impossíveis de se copiarem. A maior barreira para sua comercialização é que ele requer TV full HD e um tocador adequado para sua reprodução, vendido por R$800. Com o barateamento dos custos do aparelho e a previsão de aumento nas vendas de televisores HDTV para a copa do mundo, a estimativa é que 600 mil discos de blu-ray sejam vendidos neste ano, contra os 230 mil do ano passado.

Para as locadoras que não acreditam mais na recuperação do mercado da mídia física (DVD) a solução está na própria internet, que já começa a ser vista como uma aliada e não mais como inimiga. Para se encaixar na evolução, o setor desenvolveu o serviço de locações online, que disponibiliza um acervo para ser assistido via streming, similar ao usado pelo site youtube, mediante pacotes de aluguel mensais. “A tendência em países como os EUA, onde existe banda larga de qualidade, é desenvolver um serviço de locadoras online. O cliente vai fazer downloads legalmente, com direito a boa qualidade, cenas extras e bônus especial. Aqui, no Brasil, a internet ainda é muito falha para esse mercado”, finaliza o professor.

Cult – A segmentação de público é a saída para o mercado em decadência. Os cinéfilos dão valor a obras originais e serão fiéis a qualidade até na hora da morte. A tendência é que as locadoras menores se transformem em um reduto dos apaixonados pela sétima arte, onde eles trocarão informações, críticas e terão acesso a raridades.

DADOS

Últimos 3 anos – redução de 45% nas vendas de DVDs para locadoras

Prejuízo da indústria de cinema – US$ 6,1 bilhões

Em 2009 – 10 milhões de DVDs piratas foram retirados do mercado

Em 2005 – 12 mil locadoras no Brasil

Hoje em dia – Menos de 6 mil

Fonte: Associação Anti-Pirataria de Cinema e Música; União Brasileira de Vídeo


*matéria publicada originalmente na edição de abril/2010 da revista Livre Mercado

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