segunda-feira, 24 de maio de 2010

Locadoras, um negócio do século passado?


Com o declínio das locações, as lojas do ramo estão investindo em outros produtos para manter o comércio ‘ativo’

Assim como Hollywood, o mercado das vídeolocadoras já viveu épocas mais douradas. Os tempos são outros e a prática de alugar DVDs em um estabelecimento está perdendo cada vez mais espaço para os downloads gratuitos feitos pela internet e para o aumento indiscriminado da pirataria física. A criação do VHS (Sistema de Vídeo Caseiro, na sigla em inglês) gerou o “boom”das locadoras e a febre do cinema em casa, na década de 70. Com o passar dos anos a prática do home vídeo esfriou e foi reaquecida pela chegada do DVD (Disco Digital de Vídeo), no final dos anos 90, o que também constituiu elemento facilitador da prática da pirataria, a arquiinimiga da indústria cinematográfica.

Este novo cenário tem dificultado a vida das locadoras de bairro que não tem condições de concorrer com as facilidades oferecidas pelo mercado negro das películas. Elaine Frade, 37 anos, está a apenas seis meses no negócio. Ela comprou a Naka Vídeo Locadora, que existe a 19 anos no Bairro Rudge Ramos, em São Bernardo e já se diz arrependida com o negócio. “Não tem mais lugar para as locadoras de vídeo no mercado, elas estão chegando ao fim. Apesar da nossa boa localização, já registrei queda de 50% nos lucros em menos de um semestre”, afirma.

Até as grandes redes estão sentindo o impacto da era digital, como a Blockbuster brasileira, gigante do ramo, que foi comprada pelas Lojas Americanas em 2007. Para não se tornarem ultrapassadas, as lojas que pretendem continuar em atividade terão de se adaptar a nova realidade e investir em melhorias tanto no atendimento como na seleção dos filmes oferecidos ao público.

Os seis mil títulos acumulados nas prateleiras de Elaine Frade não são suficientes para sustentar a família, e por isso ela incrementou as vendas e agora oferece no mesmo espaço, filmes, bijuterias e roupas de fitness. “A venda de roupas representa 70% da minha receita, a locação de DVDs fica com os 30% restantes”, confessa.

Ela concorda que grande parte da culpa é da fiscalização precária em cima do comércio ilegal, mas aponta o alto custo da indústria do cinema pela outra parte do fracasso. “Um DVD original custa cerca de R$120. Cobrando R$5 em cada aluguel, vou começar a ter lucro somente após 24 locações”, relata.

Futuro – Os estudiosos do setor acreditam que esse encolhimento não é apenas uma crise passageira e sim uma remodelação do segmento. A era digital está estabelecendo uma nova ordem mundial no mercado do home vídeo que será baseada prioritariamente nas exibições online. “O que vai acontecer é uma readequação das locadoras, mas o mercado nunca voltará aos moldes que alcançou no passado”, esclarece o professor de cinema digital da Universidade Metodista de São Paulo, José Augusto de Blasiis.

As esperanças do setor estão concentradas no blu-ray, a nova geração de DVDs com capacidade de armazenar filmes com alta definição e, até o momento, impossíveis de se copiarem. A maior barreira para sua comercialização é que ele requer TV full HD e um tocador adequado para sua reprodução, vendido por R$800. Com o barateamento dos custos do aparelho e a previsão de aumento nas vendas de televisores HDTV para a copa do mundo, a estimativa é que 600 mil discos de blu-ray sejam vendidos neste ano, contra os 230 mil do ano passado.

Para as locadoras que não acreditam mais na recuperação do mercado da mídia física (DVD) a solução está na própria internet, que já começa a ser vista como uma aliada e não mais como inimiga. Para se encaixar na evolução, o setor desenvolveu o serviço de locações online, que disponibiliza um acervo para ser assistido via streming, similar ao usado pelo site youtube, mediante pacotes de aluguel mensais. “A tendência em países como os EUA, onde existe banda larga de qualidade, é desenvolver um serviço de locadoras online. O cliente vai fazer downloads legalmente, com direito a boa qualidade, cenas extras e bônus especial. Aqui, no Brasil, a internet ainda é muito falha para esse mercado”, finaliza o professor.

Cult – A segmentação de público é a saída para o mercado em decadência. Os cinéfilos dão valor a obras originais e serão fiéis a qualidade até na hora da morte. A tendência é que as locadoras menores se transformem em um reduto dos apaixonados pela sétima arte, onde eles trocarão informações, críticas e terão acesso a raridades.

DADOS

Últimos 3 anos – redução de 45% nas vendas de DVDs para locadoras

Prejuízo da indústria de cinema – US$ 6,1 bilhões

Em 2009 – 10 milhões de DVDs piratas foram retirados do mercado

Em 2005 – 12 mil locadoras no Brasil

Hoje em dia – Menos de 6 mil

Fonte: Associação Anti-Pirataria de Cinema e Música; União Brasileira de Vídeo


*matéria publicada originalmente na edição de abril/2010 da revista Livre Mercado

Shoppings do ABC investem em medidas para reduzir os impactos ambientais

Investir em gestão ambiental está cada vez mais na pauta da iniciativa privada. Isso por que cuidar dos impactos ambientais que sua empresa ou indústria causa no meio traz não só vantagens para a natureza como também para o bolso do investidor. O professor de gestão ambiental da Universidade Metodista de São Paulo, Vicente Manzione Filho, 34 anos, explica que a lucratividade de um negócio é potencializada pela economia gerada durante o processo de produção. “A base da gestão ambiental é concentrada em três frentes: a redução de consumo, a reutilização de água e a gestão de resíduos. Gerindo esses fatores chegamos a uma produção limpa tantos nos aspectos ambientais quantos nos econômicos”, explica.

Para estabelecer diretrizes de ações ambientais desenvolvidas dentro das empresas, a Organização Internacional para Padronização estabeleceu o ISO 14000. “O ISO é o modelo inicial para qualquer empresa que queria ter uma gestão ambietal. Ele funciona como um ciclo de identificação e correção. Primeiro você identifica os setores que podem causar impacto ambiental para depois corrigi-los”, esclarece o professor. De acordo com ele, normalmente são indústrias que recebem o certificado, sendo pouco comum no setor de serviços.

Contrariando a regra, o Shopping Metrópole, de São Bernardo, foi o primero da região a receber o ISO 14001, variação do ISO que gerencia a gestão ambiental em empresas, pelas medidas que reduziram em 5% o consumo de água dentro do shopping nos últimos três anos. Essa economia foi possivel com a instação de vasos sanitários e válvulas hidras de seis litros, torneiras e mictórios com temporizadores e sensores de presença além de redutores de vazão nas torneiras. E em 2009, o empreendimento iniciou a instalação de mictórios sem água, que reduzem cerca de 16 metros cúbicos por mês no consumo total do Metrópole. Hoje um visitante gasta diariamente 4,36 litros de água no local, a meta do shopping é reduzir o consumo para 3 litros até 2020.

Apesar de não possuir o ISSO 14001, o Shopping ABC de Santo André também desenvolve ações de responsabilidade ambiental, como a coleta seletiva de todo o lixo produzido dentro do estabelecimento, que posteriormente são enviados para reciclagem, além de banheiros equipados com sensores e temporizadores de água que são fechados automaticamente evitando o desperdício. Nos próximos 18 meses o empreendimento pretende reduzir em 30% o consumo de energia elétrica. Para isso vai diminuir as lâmpadas do estacionamento a apenas uma por ponto estratégico e trocar o sistema de ar-condicionado.

Apesar de ter projetos planejados nenhum dos shoppings possui sistema de reutilização de água, um dos meios atuais mais eficientes de eliminar o desperdício. Os demais shoppings da região não informaram sobre as ações de responsabilidade que desenvolvem.

*matéria originalmente publicada na edição de abril/2010 da revista Livre Mercado

Frozen iogurte: Mania nacional

O bom e velho sorvete que se cuide, pois um concorrente de peso chegou para abalar as estruturas do mercado. A nova sensação atende pelo nome de “frozen iogurte”, um sorvete feito a base de iogurte natural que em menos de dois anos conquistou os brasileiros e se tornou mania nacional. Além do sabor único, procedente da matéria prima importada da Itália, outro fator que contribuiu para o sucesso instantâneo do produto é seu baixo teor calórico. Cada 100g de frozen contém 88 calorias, o sorvete tradicional é duas vezes mais calórico, chegando às temidas 190 calorias por cada 100g.

No Brasil a pioneira do ramo foi a Yogoberry, que inaugurou a sua primeira loja em novembro de 2007, no Rio de Janeiro. As sócias Un Ae Hong e a nutricionista Jong Ae Hong pesquisaram matérias primas e equipamentos de diversos países por mais de um ano, antes de implantar o “frozen de iogurte” no país. A receita deu certo. O que era apenas uma loja se tornou uma rede de franquias, que hoje tem 32 unidades espalhadas pelos estados do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Brasília, Recife, Espírito Santo e Porto Alegre.

O grande ABC não ficou de fora. Existem duas franquias na região, uma no município de Santo André, no Shopping ABC, e a outra em São Bernardo, no Shopping Metrópole. A Yogoberry andreense completa seis meses agora em abril a pleno vapor. Um dos quatro sócios do negócio, Rodrigo Adedo, 34 anos, conta que a idéia de abrir a loja partiu de sua irmã, Adriana Adedo e o marido Waldeviqui Borges. Eles moram em Belo Horizonte, a primeira cidade fora do Rio de Janeiro a ter uma franquia. “Nós queríamos o melhor. Antes de abrir a loja experimentamos todas as marcas. Minha cunhada oferecia o frozen de iogurte da Yogoberry e dos concorrentes para as pessoas. Em 100% das vezes a Yogoberry foi escolhida, então abrimos o negócio”, explica Sabrina Adedo, que toca a loja junto com o marido Rodrigo.

A loja do Shopping ABC possui 30 metros quadrados, o mínimo exigido pela franqueadora. O atendimento é realizado por 10 funcionários divididos em dois turnos e aos domingos, o dia de maior movimento, o time conta com um funcionário a mais para atender a demanda. Segundo Rodrigo, a média de 12 mil atendimentos no mês. “O produto atrai todas as idades e todos os gostos, temos clientes de zero a 90 anos e eles são fiéis. Alguns vêm todos os dias e já os tratamos pelo nome”, relata.

Quando um negócio novo no mercado é bem sucedido, logo começam a pipocar concorrentes. O sucesso do frozen de iogurte não fugiu a regra. Pegando carona na Yogoberry diversos fornecedores da novidade gelada surgiram no mercado com nomes e cores parecidos, o que parece não preocupar os donos da franquia de Santo André. “O sabor Yogoberry é único, é iogurte natural com textura de sorvete e não sorvete com gosto de iogurte”, ilustra Sabrina, grávida de nove meses.

Franquias – A Yogoberry acompanha de perto todo o processo de abertura de franquias. Primeiro o interessado deve possuir o perfil da empresa que é ser empreendedor, comprometido e ter capital disponível. O investimento inicial para abrir uma franquia gira em torno dos R$300 mil, fora o ponto comercial e o estoque inicial. O prazo previsto para retorno é de um ano e meio a dois. “O investimento é alto, nós fizemos um empréstimo no banco e gastamos cerca de 500 mil, sem contar o ponto aqui no Shopping que é caro”, ressalta Rodrigo Adedo.

As lojas são padronizadas, desde os móveis e utensílios até as cores, resultando em um layout descolado e jovial. “Alguns materiais a franquia fornece, outros ela indica a loja e nós compramos. A matéria prima também é a mesma em todas as lojas, vem exclusivamente da Itália, apenas a compra dos toppings pode ser feita de outros fornecedores”, esclarece Sabrina Adedo.

Empolgados com o sucesso no ABC, Rodrigo e Sabrina já estão com planos traçados para o futuro. “Vamos abrir mais duas franquias. Uma no Shopping Dom Pedro, em Campinas, em novembro e outra no Shopping Indaiatuba, que ficará pronto em abril de 2011”, adianta o casal.

Quanto custa ter uma Yogoberry

Investimento de R$ 300 mil – mais o ponto comercial e o primeiro estoque;

Taxa de franquia de R$ 80 mil a R$ 120 mil (varia de acordo com o tamanho da loja);

Capital de giro R$ 50 mil;

Taxa de royalties 7% sobre o faturamento bruto;

Faturamento médio mensal R$ 70 mil;

Prazo médio de retorno de 18 a 24 meses;

Área mínima 30 m²;

Para mais informações acesse o site www.yogoberry.com.br


*matéria originalmente publicada na edição de abril/2010 da revista Livre Mercado

Empreendedorismo: Jovens ganham mais espaço e se tornam uma constante no mundo dos negócios

Uma nova cultura se desenvolveu no mundo dos negócios, a do jovem empreendedor. A geração da década de 80 puxou a fila dos jovens patrões, que logo cedo já dispensam a figura do chefe de empresa arcaico e assumem o comando de seus próprios negócios. Antes a linha cronológica da vida era conseguir uma formação, encontrar um bom emprego e depois sair da casa dos pais para se casar. As pessoas se contentavam em ser empregadas de outras por um longo tempo. Hoje, o costume é diferente, os jovens estão empenhados em acumular capital e montar seu próprio negócio antes de completar 30 anos e de sair da barra dos pais.

Essa nova geração carrega para a profissão a ousadia experimental de quem tem a cabeça cheia de idéias, e pouco medo de arriscar. Essa postura dinamizou antigos sistemas empresariais e vêm transformando o ambiente de trabalho em um local mais acessível aos funcionários, onde a comunicação é realizada de forma horizontal.

O vice-presidente da Associação Comercial de São Bernardo (Acisbec), Valter Moura Júnior, 35 anos, montou o seu primeiro negócio aos 18 anos, no ramo de eventos. “Comecei organizando feiras coorporativas e depois abri a minha empresa, a Welcome Eventos que hoje é especializada em seminários e congressos. Eu era muito novo e como não possuía uma equipe formada fazia de tudo. Tinha que ser o vendedor, o diretor financeiro, administrador, enfim todas as funções. Isso me ensinou muita coisa”, recorda.

Antigo coordenador do Núcleo Jovens Empreendedores da Acisbec, Valter Júnior acompanhou de perto a trajetória inicial de muitos jovens no processo de abertura do primeiro negócio. Ele classifica como jovem empreendedor aquela pessoa que está na faixa dos 25 aos 29 anos, recém saído de uma faculdade, com as idéias fermentando na cabeça e uma grande capacidade de ação. “A vantagem de se empreender nessa idade é a ousadia e a vibração, os jovens não têm medo de errar porque se caírem terão tempo para recomeçar. Ao contrário das pessoas mais experientes que já bateram tanto a cara na parede que agora tiram um pouco o pé do acelerador”, ilustra o empresário.

De acordo com ele as áreas que mais atraem os jovens profissionais são as que envolvem TI (Tecnologia da Informação) e o setor de serviços de um modo geral.

Incentivo – Começar um negócio é um desafio para qualquer idade, quanto mais novo o empreendedor for, mais difícil é a empreitada. Ainda existe muita desconfiança com a juventude, e a falta de credibilidade acaba se tornando uma grande barreira para as novas gerações. Segundo Valter Júnior, falta no ABC políticas públicas que ofereçam crédito a juros baixos para o esse segmento. “Os jovens que estão começando precisam de incentivo fiscal para abrir o primeiro negócio. Eles precisam de uma linha de crédito própria para conseguir crédito e empreender”, diz.

Planejamento Se por um lado a impulsividade da juventude é um diferencial positivo, por outro a precipitação é uma das maiores causas de falências das empresas. Para fugir desse risco, o empresário Marcelo Tristão, 37 anos, dono da rede alimentícia Azul Banana, investiu tempo em planejamento e capacitação antes de abrir o seu negócio, aos 26 anos. “Eu fiz vários cursos preparatórios no Sebrae, pesquisei sobre a área e os custos que teria com manutenção e produtos. Não adianta só ter uma boa idéia, você tem que planejar para minimizar os riscos”, relata Tristão.

Hoje, Marcelo é dono de uma fábrica de salgados e de três unidades da rede alimentícia Azul Banana. Com 21 funcionários sob sua responsabilidade, o empresário afirma que a receita para o sucesso é dar um passo de cada vez e procurar não se endividar. “Eu comecei devagar, e fui expandindo aos poucos de acordo as minhas possibilidades”, conclui.

*matéria originalmente publicada na edição abril/2010 da revista Livre Mercado

Entrevista com Shotoku Yamamoto, presidente do Ciesp de Santo André

Por: Janine Abrão e Heloisa Zambrão


O economista, Shotoku Yamamoto, 65 anos, ocupa atualmente em Santo André o cargo de diretor titular da diretoria regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). Ele representa o presidente do Ciesp em Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Faz a intermediação entre os poderes públicos municipais e as indústrias para pleitear soluções nas áreas de infraestrutura, meio ambiente, tributária, trabalhista, entre outras. Atua encaminhando as reivindicações das indústrias da Região ao presidente da casa e seus assessores, quando as soluções não dependem do diretor regional. Além disso, procura fazer integração das indústrias com outras entidades de classes, poderes públicos e sindicatos dos trabalhadores.

Há 56 anos em Santo André, o Ciesp opera facilitando a vida dos empresários da indústria e une os interesses das associações ligadas ao setor produtivo. Como uma entidade civil e privada, não almeja fins lucrativos. Possui nove mil associados no Estado de São Paulo, sendo a maior entidade representativa do setor na América Latina. Possui 42 diretorias regionais espalhadas pelo Estado de São Paulo.


As indústrias região, unidas sob a assistência de uma organização como o Ciesp são favorecidas de que forma?

O associativismo fortalece a indústria, a exemplo do que ocorre com outras entidades de classe. Uma empresa consegue resolver problemas que individualmente não conseguiria resolver, tais como interrupção prolongada no fornecimento de energia elétrica, conflitos trabalhistas, licenciamento ambiental entre outros. Como dizia o nosso ex-presidente Horácio Lafer Piva: “o industrial resolve todos os problemas da sua empresa da portaria para dentro, mas muitas vezes, o lucro pode estar da portaria para fora”.

As dificuldades das indústrias do ABC caminham no mesmo sentido?

São as mesmas. Isso porque não existem mais limites geográficos, as cidades são interdependentes e os recursos produtivos fluem entre elas.

Quais as grandes conquistas?

É difícil enumerar as conquistas. A função do Ciesp é pressionar os governos municipais, estadual e federal para atender as demandas das indústrias. Por exemplo, pressionamos o governo estadual para facilitar o acesso da Avenida do Estado que termina em Capuava ao Rodoanel Mário Covas, através da Avenida Papa João XXIII, em Mauá. Dia 13 (abril), participei de uma reunião com diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, juntamente com diretores da Associação Brasileira de Fundição, ABIFA, e com Luiz Antonio de Medeiros (sindicalista). A proposta era levar ao Governo Federal os problemas que as indústrias do setor de fundição, ferramentaria, tratamento térmico, usinagem, entre outras, estão enfrentando. A dificuldade surgiu por que uma portaria do Governo isentou de impostos as importações de máquinas usadas. Esse maquinário vem até com ferramental para produzir peças automotivas de modelos que são produzidos no Brasil e já saíram de linha lá fora. Desta reunião as entidades resolveram levar o problema à Brasília para pleitear uma solução e, se o Governo Federal resolver o nosso problema, ótimo. Não vamos sair por aí dizendo que foi uma conquista do Ciesp. Na história do Rodoanel é a mesma coisa, o projeto já foi concluído. Não estou preocupado com este tipo de coisa, o importante é que a Região melhore, não só para as indústrias, mas para todos os cidadãos. Além disso, o Ciesp participou e continua participando com as Universidades e com o Senai de Santo André da criação do Parque Tecnológico de Santo André.

Como a atual taxa Selic interfere na produção das indústrias?

A taxa Selic de 8,75% é exageradamente alta, o que dificulta o investimento atrasa o crescimento do Brasil. E, o que é pior, na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), é provável que a taxa Selic comece uma trajetória de alta. O problema é que, no Brasil, o Banco Central tem a obrigação ou a responsabilidade de colocar a inflação dentro da meta de 4,5% ao ano, mas não dispõe de todos os instrumentos de política econômica, dispõe somente da política monetária. Uma pressão inflacionária pode ser eliminada com a política fiscal reduzindo, por exemplo, os gastos governamentais que são parte da demanda agregada. Sobre os gastos governamentais o Banco Central não tem nenhum poder de decisão e, por isso, o Banco Central só combate a pressão inflacionária, se é que existe, aumentando a taxa de juros ou aumentando os depósitos compulsórios (políticas monetárias). O aumento da taxa Selic freia os investimentos, diminui o consumo interno e o pior efeito vem no câmbio. A taxa real de juros alta incentiva a entrada de dólares, portanto, aumenta a oferta de dólares o que derruba a cotação da moeda americana, cuja consequência é o barateamento dos produtos importados e aumento da dificuldade de exportações. Isto diminui a pressão inflacionária? Claro que sim, mas a que preço? É só fazer uma comparação entre o crescimento da produção nacional de manufaturados e das importações para constatar o efeito nefasto que a alta taxa Selic provoca na indústria brasileira.

Como a sustentabilidade ambiental pode ser desenvolvida dentro do segmento industrial?

O Governo deveria dar incentivos fiscais para que as empresas façam esse tipo de investimento. Não dá para uma empresa que opera no mercado de alta competição, como é o caso da maioria das empresas brasileiras, investir na melhoria do meio ambiente se os concorrentes não o fizerem. Muitas concorrem com empresas informais que não tem licenciamento ambiental, não pagam impostos e, por isso, tem custo menor e ditam o preço no mercado. Como é que uma empresa formal pode concorrer com elas, arcando com uma carga tributária pesadíssima e ainda investir em melhoria do meio ambiente sem ter uma compensação, sem ter um incentivo? Para as grandes indústrias que operam no mercado do tipo oligopólio é diferente, pela própria natureza do negócio. Depende também de investimentos públicos, por exemplo, em São Caetano a Sabesp construiu há muito tempo uma grande estação de tratamento de esgotos mas opera com enorme capacidade ociosa porque o poder público não concluiu a rede para captar o esgoto dos municípios. A água tratada poderia ser muito útil para, o Polo Petroquímico de Capuava que tem uma atividade de uso intensivo de água.

Como o Rodoanel vai contribuir para o desenvolvimento econômico da Região?

O Rodoanel é uma obra muito importante, não só para a nossa Região. Melhora a logística das indústrias de todo o Estado de São Paulo, facilita o acesso ao porto de Santos. Mas, como eu disse lá atrás, requer algumas obras complementares (acesso da Avenida do Estado à Avenida Papa João XXIII). Quando estiver concluído o prolongamento da Jacu Pêssego até a Papa João XXIII creio que vai diminuir consideravelmente o trânsito na zona leste de São Paulo.

A crise econômica mundial impactou o ABC de que forma?

A crise econômica mundial afetou mais os países exportadores do primeiro mundo, principalmente Europa e Japão, como consequência da crise de liquidez dos Estados Unidos que são os grandes consumidores do mundo. O Brasil, pelo fato de não nunca ter sido um grande exportador de manufaturados, por ser uma população muito grande com demanda reprimida alta e por ter um baixo volume de crédito em relação ao PIB, não foi muito afetado. Por causa destas características do país, com o aumento do crédito, diminuição da alíquota do IPI de alguns segmentos, a partir do último trimestre de 2009 começamos a recuperar o crescimento. Na região do ABC algumas indústrias exportadoras e seus fornecedores sofreram e continuam enfrentando dificuldades principalmente por causa desta super apreciação do real.

Que setor melhor se destaca na Região?

Os setores que estão se destacando são as indústrias voltadas à construção civil, metalúrgicas voltadas à indústria de máquinas e equipamentos rodoviários que estão se recuperando bem por conta do Finame PSI (programa de sustentação do investimento) que o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) criou a pedido e pressão da ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).

Como se define a lucratividade no setor industrial?

A lucratividade das empresas depende muito mais do tipo de mercado onde as indústrias operam. Quanto mais competitivo for o mercado, menor é a margem de lucro. Eu divido as empresas industriais em três segmentos: o primeiro é aquele que não apresenta barreira tecnológica e nem financeira para o ingresso de novos concorrentes e, exatamente por isso, o mercado torna-se altamente concorrido; em outras palavras, qualquer empregado demitido de uma fábrica de móveis, confecções, serralheria é capaz de montar o seu negócio. O segundo segmento é aquele que, embora não apresente barreira tecnológica, apresenta barreira financeira, isto é, são as indústrias conhecidas como de capital intensivo. O terceiro é aquele que apresenta barreiras tecnológicas e financeiras para o ingresso no mercado. Não preciso dizer que é neste último segmento que a lucratividade é maior. Pouquíssimas são as empresas genuinamente brasileiras que operam neste terceiro segmento. Sobre este assunto dá para escrever um livro.

Como o Consórcio Intermunicipal e órgãos como o CIESP se articulam para o crescimento da economia Regional?

O Ciesp é uma entidade privada sustentada pela contribuição associativa voluntária das indústrias e o Consórcio Intermunicipal, uma instituição pública formada pela sete cidades. Eu reputo como boa a articulação do Ciesp com a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC que é um braço do Consórcio. Por exemplo, a maioria das empresas que fazem parte do APL Metal mecânico da Agência é sócia do Ciesp Regional.

Com as eleições presidenciais chegando, qual impacto pode ocorre na produção industrial?

Creio que as eleições de 2010 terão pouco impacto na produção das indústrias, mesmo porque a política econômica do atual governo é a continuação do governo anterior, embora de partidos diferentes. Os dois candidatos com maior possibilidade de vitória são dos partidos que governam o país deste o início do Plano Real.

O desenvolvimento econômico anda junto com o desenvolvimento social?

Não. O desenvolvimento social só acontecerá quando o governo realmente investir na melhoria da qualidade dos ensinos fundamental e médio. Eu sonho com um país onde a iniciativa privada não consiga obter lucro explorando a educação e a saúde. Estes dois segmentos não podem ser objeto de lucro, é responsabilidade do Estado. A universidade pública gratuita é um luxo que não posso aceitar enquanto o Brasil tiver este exército de semi-analfabetos. É preciso reformar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Quais as previsões para o fechamento deste semestre? E para o fechamento de 2010?

A expectativa, não só para o semestre, como para todo o ano de 2010 é boa, não teremos grandes surpresas. Só espero que a taxa Selic não aumente muito para não derrubar ainda mais a cotação do dólar que é um dos grandes problemas da indústria brasileira.


*matéria originalmente publicada na edição de abril de 2010 da revista Livre Mercado

Custo Benefício: Quanto uma pessoa gasta para se preparar para um concurso público?

Atualmente a carreira pública emprega nove milhões de brasileiros, segundo dados do IBEG. O que mais atrai as pessoas para a área é a busca por estabilidade no cargo, boa condição financeira e a forma democrática de contratação. Qualquer pessoa, independente de sua condição social, etnia ou sexo pode prestar um concurso e passar.

Por conta dessas vantagens a busca por um emprego seguro tem aumentado muito. Hoje podemos dizer que o Brasil é o país dos concursos públicos, recentemente a prova para trabalhar nos correios reuniu um milhão de concorrentes. Como consequência subiu também a demanda por cursos preparatórios em instituições especializadas. Mas quanto custa se preparar para os cargos estáveis e cada vez mais concorridos na máquina pública?

O diretor de Recursos Humanos da Central de Concursos, José Luis Romero Baubeta, 47 anos, estima que a pessoa que concorre a um cargo de nível médio, com remuneração mínima a partir de R$ 1 mil vai gastar de R$2 a R$4 mil para se preparar. Já para quem almeja uma vaga de nível superior, com salário iniciais mais altos, os gastos são mais maiores, chegando na faixa dos R$ 6 mil.

A estimativa é uma média que inclui os custos com a mensalidade, material didático, material extraclasse, taxas de inscrição, transporte e alimentação no período de um ano, o tempo que a maioria das pessoas leva para passar nas provas. “Normalmente o aluno não passa nem no primeiro e nem no segundo concurso. Ele vai ser aprovado apenas no terceiro”, explica o diretor de RH.

Apesar de parecer que não a relação de custo-benefício compensa e os gastos se pagam através do salário e da estabilidade alcançada na vida profissional. José Baubeta ressalta que o investimento tem retorno a médio e longo prazo. “A ideia é vender para as pessoas uma oportunidade de vida. Além dos conhecimentos para passar na prova ela aumenta a sua bagagem cultural e se torna apta a exercer a profissão”.

O perfil de quem procura os cursinhos é o mais variado possível. Abrange desde jovens, entre 18 e 22 anos, que acabaram de sair do ensino médio em busca do primeiro emprego, até as pessoas mais experientes, acima de 40 anos, que já trabalham, mas por medo da instabilidade das empresas privadas, buscam garantir um “plano B”.

De uns anos para cá a procura pela área tem aumentado bastante e as opções são inúmeras para quem quer seguir no ramo, mas de acordo do José Baubeta é muito comum as pessoas pecarem na hora de escolher optar por um dos muitos setores que a carreira pública oferece. “Eu aconselho a todos os alunos a pesquisarem sobre a área em que pretendem trabalhar. Você não pode pegar o primeiro que aparecer, tem que escolher com cautela para não ser um profissional infeliz”, afirma.

De acordo com ele, um dos grandes aliados do crescimento da carreira pública tem sido a divulgação maciça que o setor tem obtido na mídia nos últimos tempos. Até algum tempo atrás as pessoas tinham preconceito em trabalhar para o governo, seja ele federal, municipal ou estadual. “O próprio ABC era um mercado devagar, cru, por falta de curiosidade”, pontua Baubeta.

Segundo a gerente da Central de Concursos de Santo André, Carla Borin, 34 anos, a unidade do município possui 1800 alunos matriculados neste mês. A demanda na região é maior para concursos de nível médio, como o da Caixa Econômica Federal que será realizado no dia 9 de maio, contabilizando 70% do total em face dos 30% que se preparam para o nível superior.

A aluna de Santo André Norma Homma, 41 anos, é uma delas. Ela possui o segundo grau completo e sempre trabalhou com bancos e viu no concurso da Caixa Econômica a chance estabilidade. Ela estima que vai gastar em torno de R$2,5 mil durante o curso de seis meses, mas acredita que o investimento vale a pena. “É um pouco caro, mas compensa pelo acompanhamento que você tem. Quando eu passar no concurso vou ter retorno desse dinheiro”, anuncia.

Autodidatas – A maior parte dos concursos tem matérias padrão e 90% das provas exige português, matemática, informática e direito. Variando apenas o nível de dificuldade e as matérias específicas. Por conta desse edital base, muitas pessoas optam em dispensar o cursinho e estudar por conta própria. A maior desvantagem é não contar com a presença de um professor para tirar dúvidas e um tempo certo de estudo. Para esse público que quer reduzir as despesas, a Central de Concursos disponibiliza o serviço de venda de apostilas, o kit básico custa R$120. “Para cada dez pessoas que compram as apostilas uma faz o curso. Mas essas pessoas estarão sozinhas e vão ter que se esforçar muito mais do quem faz o curso”, avalia José Baubeta.


*matéria originalmente publicada na edição de abril de 2010 da revista Livre Mercado

Além de estudar mais que o homem, mulher ainda faz o trabalho de casa, segundo Ipea

No Dia Internacional da Mulher o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou o estudo “Mulheres e trabalhos: avanços e continuidades “ que revelou que a maior parte dos trabalhos domésticos ainda é de responsabilidade da mulher.

O estudo é referente aos anos de 1998 e 2008 e mostra que houve uma ampliação no papel da mulher na sociedade moderna. Há muito mais mulheres como chefes de família, arcando com as despesas da casa e realizando trabalhos que antes eram historicamente desempenhados pelos homens. Além disso, a população feminina se destaca também no meio acadêmico e o seu tempo médio de estudo já é superior ao dos homens.

Apesar de toda a escalada rumo ao mundo profissional, a pesquisa revela que não houve praticamente nenhuma mudança na distribuição dos afazeres domésticos com os homens. Em sua maioria as tarefas de casa são delegadas às mulheres.

A advogada Rosangela Maria Negrão é vice-presidente da OAB de São Caetano e conselheira da OAB paulista. Segundo ela, com sua entrada no mercado de trabalho a mulher acumulou mais funções as que já exercia antes. “A sociedade capitalista impõe uma jornada tripla de trabalho à mulher moderna: o seu trabalho, a sua responsabilidade como esposa e mãe de família e a sua vida social”. Para a advogada o excesso de obrigações tem desgastado as mulheres. “A carga colocada em cima da mulher é descomunal, tanto que hoje temos muito mais mulheres enfartando. É preciso que haja uma divisão das tarefas”.

Bem sucedida profissionalmente ela afirma que chegou ao topo de sua carreira com muito esforço e sofreu preconceito por ser sempre uma das poucas mulheres em um meio tão masculino. “Até hoje quando chego nas altas rodas de advogados, os que não me conhecem pensam que sou uma mulher qualquer. Eu preciso me impor, diferente do homem, que é aceito de imediato em qualquer local”, afirma.