Por: Janine Abrão e Heloisa Zambrão
O economista, Shotoku Yamamoto, 65 anos, ocupa atualmente em Santo André o cargo de diretor titular da diretoria regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). Ele representa o presidente do Ciesp em Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Faz a intermediação entre os poderes públicos municipais e as indústrias para pleitear soluções nas áreas de infraestrutura, meio ambiente, tributária, trabalhista, entre outras. Atua encaminhando as reivindicações das indústrias da Região ao presidente da casa e seus assessores, quando as soluções não dependem do diretor regional. Além disso, procura fazer integração das indústrias com outras entidades de classes, poderes públicos e sindicatos dos trabalhadores.
Há 56 anos em Santo André, o Ciesp opera facilitando a vida dos empresários da indústria e une os interesses das associações ligadas ao setor produtivo. Como uma entidade civil e privada, não almeja fins lucrativos. Possui nove mil associados no Estado de São Paulo, sendo a maior entidade representativa do setor na América Latina. Possui 42 diretorias regionais espalhadas pelo Estado de São Paulo.
As indústrias região, unidas sob a assistência de uma organização como o Ciesp são favorecidas de que forma?
O associativismo fortalece a indústria, a exemplo do que ocorre com outras entidades de classe. Uma empresa consegue resolver problemas que individualmente não conseguiria resolver, tais como interrupção prolongada no fornecimento de energia elétrica, conflitos trabalhistas, licenciamento ambiental entre outros. Como dizia o nosso ex-presidente Horácio Lafer Piva: “o industrial resolve todos os problemas da sua empresa da portaria para dentro, mas muitas vezes, o lucro pode estar da portaria para fora”.
As dificuldades das indústrias do ABC caminham no mesmo sentido?
São as mesmas. Isso porque não existem mais limites geográficos, as cidades são interdependentes e os recursos produtivos fluem entre elas.
Quais as grandes conquistas?
É difícil enumerar as conquistas. A função do Ciesp é pressionar os governos municipais, estadual e federal para atender as demandas das indústrias. Por exemplo, pressionamos o governo estadual para facilitar o acesso da Avenida do Estado que termina em Capuava ao Rodoanel Mário Covas, através da Avenida Papa João XXIII, em Mauá. Dia 13 (abril), participei de uma reunião com diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, juntamente com diretores da Associação Brasileira de Fundição, ABIFA, e com Luiz Antonio de Medeiros (sindicalista). A proposta era levar ao Governo Federal os problemas que as indústrias do setor de fundição, ferramentaria, tratamento térmico, usinagem, entre outras, estão enfrentando. A dificuldade surgiu por que uma portaria do Governo isentou de impostos as importações de máquinas usadas. Esse maquinário vem até com ferramental para produzir peças automotivas de modelos que são produzidos no Brasil e já saíram de linha lá fora. Desta reunião as entidades resolveram levar o problema à Brasília para pleitear uma solução e, se o Governo Federal resolver o nosso problema, ótimo. Não vamos sair por aí dizendo que foi uma conquista do Ciesp. Na história do Rodoanel é a mesma coisa, o projeto já foi concluído. Não estou preocupado com este tipo de coisa, o importante é que a Região melhore, não só para as indústrias, mas para todos os cidadãos. Além disso, o Ciesp participou e continua participando com as Universidades e com o Senai de Santo André da criação do Parque Tecnológico de Santo André.
Como a atual taxa Selic interfere na produção das indústrias?
A taxa Selic de 8,75% é exageradamente alta, o que dificulta o investimento atrasa o crescimento do Brasil. E, o que é pior, na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), é provável que a taxa Selic comece uma trajetória de alta. O problema é que, no Brasil, o Banco Central tem a obrigação ou a responsabilidade de colocar a inflação dentro da meta de 4,5% ao ano, mas não dispõe de todos os instrumentos de política econômica, dispõe somente da política monetária. Uma pressão inflacionária pode ser eliminada com a política fiscal reduzindo, por exemplo, os gastos governamentais que são parte da demanda agregada. Sobre os gastos governamentais o Banco Central não tem nenhum poder de decisão e, por isso, o Banco Central só combate a pressão inflacionária, se é que existe, aumentando a taxa de juros ou aumentando os depósitos compulsórios (políticas monetárias). O aumento da taxa Selic freia os investimentos, diminui o consumo interno e o pior efeito vem no câmbio. A taxa real de juros alta incentiva a entrada de dólares, portanto, aumenta a oferta de dólares o que derruba a cotação da moeda americana, cuja consequência é o barateamento dos produtos importados e aumento da dificuldade de exportações. Isto diminui a pressão inflacionária? Claro que sim, mas a que preço? É só fazer uma comparação entre o crescimento da produção nacional de manufaturados e das importações para constatar o efeito nefasto que a alta taxa Selic provoca na indústria brasileira.
Como a sustentabilidade ambiental pode ser desenvolvida dentro do segmento industrial?
O Governo deveria dar incentivos fiscais para que as empresas façam esse tipo de investimento. Não dá para uma empresa que opera no mercado de alta competição, como é o caso da maioria das empresas brasileiras, investir na melhoria do meio ambiente se os concorrentes não o fizerem. Muitas concorrem com empresas informais que não tem licenciamento ambiental, não pagam impostos e, por isso, tem custo menor e ditam o preço no mercado. Como é que uma empresa formal pode concorrer com elas, arcando com uma carga tributária pesadíssima e ainda investir em melhoria do meio ambiente sem ter uma compensação, sem ter um incentivo? Para as grandes indústrias que operam no mercado do tipo oligopólio é diferente, pela própria natureza do negócio. Depende também de investimentos públicos, por exemplo, em São Caetano a Sabesp construiu há muito tempo uma grande estação de tratamento de esgotos mas opera com enorme capacidade ociosa porque o poder público não concluiu a rede para captar o esgoto dos municípios. A água tratada poderia ser muito útil para, o Polo Petroquímico de Capuava que tem uma atividade de uso intensivo de água.
Como o Rodoanel vai contribuir para o desenvolvimento econômico da Região?
O Rodoanel é uma obra muito importante, não só para a nossa Região. Melhora a logística das indústrias de todo o Estado de São Paulo, facilita o acesso ao porto de Santos. Mas, como eu disse lá atrás, requer algumas obras complementares (acesso da Avenida do Estado à Avenida Papa João XXIII). Quando estiver concluído o prolongamento da Jacu Pêssego até a Papa João XXIII creio que vai diminuir consideravelmente o trânsito na zona leste de São Paulo.
A crise econômica mundial impactou o ABC de que forma?
A crise econômica mundial afetou mais os países exportadores do primeiro mundo, principalmente Europa e Japão, como consequência da crise de liquidez dos Estados Unidos que são os grandes consumidores do mundo. O Brasil, pelo fato de não nunca ter sido um grande exportador de manufaturados, por ser uma população muito grande com demanda reprimida alta e por ter um baixo volume de crédito em relação ao PIB, não foi muito afetado. Por causa destas características do país, com o aumento do crédito, diminuição da alíquota do IPI de alguns segmentos, a partir do último trimestre de 2009 começamos a recuperar o crescimento. Na região do ABC algumas indústrias exportadoras e seus fornecedores sofreram e continuam enfrentando dificuldades principalmente por causa desta super apreciação do real.
Que setor melhor se destaca na Região?
Os setores que estão se destacando são as indústrias voltadas à construção civil, metalúrgicas voltadas à indústria de máquinas e equipamentos rodoviários que estão se recuperando bem por conta do Finame PSI (programa de sustentação do investimento) que o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) criou a pedido e pressão da ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).
Como se define a lucratividade no setor industrial?
A lucratividade das empresas depende muito mais do tipo de mercado onde as indústrias operam. Quanto mais competitivo for o mercado, menor é a margem de lucro. Eu divido as empresas industriais em três segmentos: o primeiro é aquele que não apresenta barreira tecnológica e nem financeira para o ingresso de novos concorrentes e, exatamente por isso, o mercado torna-se altamente concorrido; em outras palavras, qualquer empregado demitido de uma fábrica de móveis, confecções, serralheria é capaz de montar o seu negócio. O segundo segmento é aquele que, embora não apresente barreira tecnológica, apresenta barreira financeira, isto é, são as indústrias conhecidas como de capital intensivo. O terceiro é aquele que apresenta barreiras tecnológicas e financeiras para o ingresso no mercado. Não preciso dizer que é neste último segmento que a lucratividade é maior. Pouquíssimas são as empresas genuinamente brasileiras que operam neste terceiro segmento. Sobre este assunto dá para escrever um livro.
Como o Consórcio Intermunicipal e órgãos como o CIESP se articulam para o crescimento da economia Regional?
O Ciesp é uma entidade privada sustentada pela contribuição associativa voluntária das indústrias e o Consórcio Intermunicipal, uma instituição pública formada pela sete cidades. Eu reputo como boa a articulação do Ciesp com a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC que é um braço do Consórcio. Por exemplo, a maioria das empresas que fazem parte do APL Metal mecânico da Agência é sócia do Ciesp Regional.
Com as eleições presidenciais chegando, qual impacto pode ocorre na produção industrial?
Creio que as eleições de 2010 terão pouco impacto na produção das indústrias, mesmo porque a política econômica do atual governo é a continuação do governo anterior, embora de partidos diferentes. Os dois candidatos com maior possibilidade de vitória são dos partidos que governam o país deste o início do Plano Real.
O desenvolvimento econômico anda junto com o desenvolvimento social?
Não. O desenvolvimento social só acontecerá quando o governo realmente investir na melhoria da qualidade dos ensinos fundamental e médio. Eu sonho com um país onde a iniciativa privada não consiga obter lucro explorando a educação e a saúde. Estes dois segmentos não podem ser objeto de lucro, é responsabilidade do Estado. A universidade pública gratuita é um luxo que não posso aceitar enquanto o Brasil tiver este exército de semi-analfabetos. É preciso reformar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Quais as previsões para o fechamento deste semestre? E para o fechamento de 2010?
A expectativa, não só para o semestre, como para todo o ano de 2010 é boa, não teremos grandes surpresas. Só espero que a taxa Selic não aumente muito para não derrubar ainda mais a cotação do dólar que é um dos grandes problemas da indústria brasileira.
*matéria originalmente publicada na edição de abril de 2010 da revista Livre Mercado